UM ANO DO GOLPE

Por Jean Wyllys
Há um ano, o Senado Federal cassava o mandato da presidenta Dilma Rousseff por suposto cometimento de crime de responsabilidade que jamais existiu, como ficou provado durante o próprio processo. O mesmo Senado que destituiu a presidenta eleita, apenas dois dias depois, declarou em lei federal a legalidade daquilo que afirmara ser crime: abrir créditos suplementares sem autorização do Congresso passou a ser permitido, com o voto dos mesmos parlamentares que condenaram a presidenta Dilma sob essa alegação.
Há um ano, um golpe institucional concretizou a “profecia” de Romero Jucá, de colocar Michel Temer em um grande acordo nacional, "com o Supremo, com tudo", sob o argumento de retomada da economia e fim da crise política.
Um ano depois, a economia não demonstra reação (ainda que, para agradar rentistas, o ilegítimo governo Temer tenha congelado despesas com educação e saúde pública por vinte anos, penalizando a população em benefício do pagamento de juros ao mercado financeiro), a carga tributária penaliza ainda mais severamente a população e o governo tenta recortar direitos trabalhistas e acabar com a Previdência. O desemprego cresceu a ponto de em 21% dos lares (um em cada cinco!) não existir renda proveniente de emprego formal ou informal, porque absolutamente todos os membros não encontram colocação no mercado de trabalho. E agora querem privatizar tudo, vendendo empresas públicas a preço de banana para solucionar o déficit fiscal.
A crise política também se aprofundou e o ataque a direitos e garantias da população é tocado com muito dinheiro público entregue aos deputados da base governista! O presidente ilegitimo foi gravado negociando propina e compra do silêncio do seu ex-aliado Cunha (o organizador do golpe, hoje preso por ladrão) em reunião secreta no porão do Palácio do Jaburu, à meia-noite, com um empresário corrupto. Seu aliado Aécio também foi gravado pedindo 2 milhões de reais ao mesmo empresário. As provas da corrupção da quadrilha que está no poder são gigantescas, mas uma presidenta democrática foi derrubada por eles por "pedaladas fiscais"... (+ nos comentários)
jeanwyllys_realHá um ano, Temer vem estabelecendo uma curiosa relação de parceria com Gilmar Mendes (o Supremo?), em encontros fora da agenda, na intimidade do lar presidencial. A amizade não se restringe às conversas privadas, e já deu origem a um suspeitíssimo projeto de instauração do parlamentarismo no Brasil, o que daria, de vez, o poder ao partido de Temer sem precisar vencer uma eleição presidencial, e à tentativa de adotar o sistema eleitoral do Afeganistão e da Jordânia. A quem não ganha uma eleição no voto majoritário, só resta o tapetão (e o tapetão vai virando regra!). Falando em Jucá - que acumula mais três denúncias por corrupção em casos relativos à Odebrecht, Transpetro e Gerdau - , sua filha, Marina Jucá, é justamente a maior beneficiada com a extinção da Reserva Nacional do Cobre, tentada por Temer com um decreto ("misteriosamente" vazado meses antes ao mercado de mineração. Sim, fui irônico!) que viola o disposto na própria Constituição. Marina Jucá é sócia majoritária da Boa Vista Mineração, e já havia declarado seu interesse em uma fatia de 90 mil hectares naquela região. Coincidência?
Há um ano o golpe foi confirmado. Aqueles movimentos, "boquinhas livres", financiados por baixo dos panos pelo PMDB, PSDB, Democratas e Solidariedade, fugiram das ruas. Nem mesmo a possibilidade de dar sequência à investigação dos gravíssimos crimes pelos quais Temer fora denunciado os motivou a qualquer coisa senão alguns protestos genéricos e vazios. A população sequer lhes deu apoio, diante de tamanha desfaçatez!
E ainda há quem diga que não foi golpe... seria vergonha de assumir que foi enganado ou incapacidade de ver qualquer coisa para além do seu ódio à esquerda?

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