Denúncias contra Temer expõem a luta encarniçada na burguesia golpista

Desde a queda de Dilma e a posse do golpista Michel Temer esse Diário tem analisado que o golpe acabou resultando em uma cisão no interior da burguesia. Para a derrubada do governo do PT, os setores mais poderosos e importantes da burguesia se unificaram. Mas com o aprofundamento da crise, ficou claro que há uma profunda cisão interna na burguesia. O desenvolvimento do golpe apenas evidenciou esse racha, que se expressa no aprofundamento da crise o regime político e na crise institucional.
Não cabe aqui explicar detalhadamente quem são cada um desses setores que estão em luta. No entanto, de um modo geral, o setor mais poderoso é representado pelos grandes capitalistas, principalmente ligados ao imperialismo norte-americano e que têm na rede Globo seu principal porta-voz. O outro setor, apesar de igualmente golpista, é representado por setores dos capitalistas mais ligados à economia nacional, representado por setores importantes do PMDB.
Uma luta fratricida
A crise institucional se arrasta e se aprofunda. A decisão da ala mais importante dos golpista de derrubar Temer está trazendo à tona que o racha na burguesia pode tomar proporções cada vez maiores.
Essa luta está revelada na diferença de posição dos principais jornais da direita. A Globo, representante do setor mais pró-imperialistas, abriu a temporada de caça ao governo. Tudo é motivo para atacar Temer e o PMDB. A posição da Globo não pode deixar dúvidas sobre a decisão de derrubar o governo por parte dos donos do golpe.
Já o também golpista Estadão tem se posicionado contrário à política de derrubar Temer. Todos os dias, a política editorial do jornal está voltada a convencer da necessidade de se manter o governo numa tentativa de “estabilizar o País”. Mesmo a enorme ofensiva contra Temer com os vazamentos da gravação com Joesley, o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE e agora com a denúncia aberta pelo Procurador-geral da República Rodrigo Janot não fizeram o Estadão arredar pé de sua posição.
A posição do Estadão revela que setores poderosos da burguesia não concordam com a política traçada pelo imperialismo sobre a necessidade de derrubar Temer. Ou seja, é uma cisão profunda não só na burguesia, mas dentro da própria direita golpista.
A posição do ministro do STF, Gilmar Mendes, notório direitista, que tem se posicionado contra as arbitrariedades da Lava Jato e do Judiciário em geral, é outra expressão dessa crise. Mendes também representa setores poderosos dos golpistas que entendem que não é hora de trocar o governo.
A crise é tão aguda que o próprio PSDB, partido mais indicado pelo imperialismo para tomar o lugar de Temer, sofre com esse racha. Dentro do partido abriu-se uma guerra sobre abandonar ou não o governo. Esse racha tem dado lugar nos jornais golpistas a uma embate importante, de um lado, a Globo pressiona o PSDB a romper com Temer, de outro lado, o Estadão elogia os tucanos por não abandonarem o governo.
Uma crise aguda do regime político
Para um setor da direita, é necessário “estabilizar” o governo com Temer à frente na tentativa de aprovar as reformas necessárias para os planos dos golpistas de ataques à população: “cabe ao presidente Michel Temer lutar para reunir maioria no Congresso não apenas para rejeitar a denúncia [de Janot], mas para seguir adiante com as reformas. O País não pode continuar refém de irresponsabilidades”, conclui o Estadão em seu editorial de 28 de junho.
Esta, no entanto, não é a posição do setor mais poderoso da direita, e portanto, não é a posição do imperialismo. O Globo defende, em editorial também do dia 28 de junho intitulado “Temer entra na história pela porta dos fundos”, que “diante da chance de conduzir reformas estratégicas, pesaram mais para Temer as ligações com o PMDB e seu grupo da Câmara”, ou seja, não é possível para o “bom andamento” do golpe a existência de uma mínima relação do presidente da República com uma base parlamentar ou qualquer base que seja.
Nesse sentido, para o imperialismo, é preciso resolver o problema do poder político para que se possa “aprovar a reformas”. Os donos do golpe estão dispostos a correr o risco de aumentar a crise e a instabilidade política e econômica do País, eles decidiram que é necessário um governo que atenda diretamente seus interesses. Para que não haja dúvidas sobre a posição oficial do imperialismo, o Financial Times afirma em artigo do dia 27 de junho que “uma saída rápida seria substancialmente melhor do que uma prolongada luta política para se manter no poder”. A Globo obedece o imperialismo e ataca Temer: é preciso derruba-lo o mais rápido possível.
Essa cisão interna da própria direita pode beneficiar os trabalhadores, mas para isso é necessária uma mobilização massiva da classe operária que tome para si os rumos da crise e imponha para a burguesia uma saída independente para a crise do regime. Por isso, é preciso mobilizar, aumentar a propaganda contra o golpe e os golpistas e denunciar todas as manobras do imperialismo para impor um governo ainda mais nocivo para os trabalhadores e o povo brasileiro. Fonte: Causa Operária.

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