Sucessão em Fortaleza: 2016 já começou

Por Wládia Fernandes
Outro detalhe: caso o grupo da ex-prefeita consiga passar no PT a tese da candidatura própria, a possibilidade de atuação do governador Camilo Santana a favor de Roberto Cláudio ficará muito limitada. Enfim, o cenário parece muito complicado para o prefeito. Isso sem considerar o grau de popularidade da gestão. Nos bastidores, sabe-se que não é das mais altas.
Fábio Campos - analista político do Jornal O Povo:
Em julho do ano que vem, começa oficialmente a campanha para a sucessão na Prefeitura de Fortaleza. Dias antes, no final de junho, será o prazo final para definição de alianças e candidaturas a prefeito. Até lá, um período de aproximadamente 15 meses. Tempo demais? Não importa. O jogo já está sendo jogado.
A questão central é a seguinte: nunca antes na História recente das eleições de Fortaleza um prefeito que vai disputar a reeleição teve um quadro político tão adverso. Roberto Cláudio é do Pros. Sozinha, a sigla tem segundos na propaganda eleitoral. Portanto, precisa de alianças para viabilizar a candidatura. Mas, com quem?
Ao bancar um candidato do PT ao Governo do Ceará, Cid Gomes tinha a clareza de uma estratégia. Era a forma de manter o PT em sua área de influência na disputa estadual, impedindo que o partido criasse sua própria via ou fosse atraído para o palanque de Eunício Oliveira, do PMDB. Intuito número 1 alcançado. Mas, com sequelas.
Intuito número 2: ao bancar o PT no Governo do Estado, Cid certamente apostou que o partido retribuiria dois anos depois apoiando a reeleição de Roberto Cláudio. Tudo está sendo feito para que assim seja. Camilo Santana, o governador petista, faz a sua parte e move as peças no jogo de xadrez.
Guilherme Sampaio, ex-líder de Luizianne Lins na Câmara de Fortaleza, virou secretário de Cultura. De cara, o governador fez passar uma medida na Assembleia dedicando dinheiro para a pasta. Tramitação relâmpago. Quem defendeu a proposta com mais conhecimento de causa foi o deputado Elmano de Freitas, que é unha e carne com Luizianne.
O plano foi ousado. O próprio Elmano, deputado de primeiro mandato, chegou a ser convidado para a liderança de Camilo na Assembleia. A mesma manobra já tinha funcionado com Antônio Carlos, o deputado luizianista que aceitou ser líder de Cid na Casa. Meses depois, o petista teve que responder às montanhas de contradições que o quadro político apresentou.
Há uma série de outras incursões tanto de Camilo Santana quanto de Roberto Cláudio para tirar de Luizianne Lins as chances de se viabilizar como candidata do PT à Prefeitura de Fortaleza em 2016. Os detalhes vêm sendo ricamente expostos pelo jornalista Érico Firmo, em sua Coluna Política.
Sem o PT ao seu lado, o prefeito terá imensas dificuldades de se reeleger. Não apenas por não agregar o tempo que o partido tem na TV. O problema maior é o seguinte: se não se aliar ao Pros é porque o PT vai ter candidatura própria, que responderá pelo nome de Luizianne.
Mas já foi assim em 2012. RC ganhou de Elmano, o candidato de Luizianne. Ora, mas o PMDB de Eunício Oliveira estava ao seu lado, dando-lhe apoio político e preciosos minutos no palanque eletrônico. A julgar pelo cenário de hoje, o PMDB ou lançará candidato próprio a prefeito ou se aliará ao PT.
E quais partidos restam para Roberto Cláudio? Bom, o PSB está sob o comando de Sérgio Novais, que é ligado a Luizianne. O PDT deverá lançar Heitor Férrer na disputa. O PSDB também deverá lançar candidato próprio. O DEM? Quem sabe? Certo mesmo só um amontoado de partidecos, os mesmos que estarão disponíveis para os dois lados. Vão a leilão.
Outro detalhe: caso o grupo da ex-prefeita consiga passar no PT a tese da candidatura própria, a possibilidade de atuação do governador Camilo Santana a favor de Roberto Cláudio ficará muito limitada. Enfim, o cenário parece muito complicado para o prefeito. Isso sem considerar o grau de popularidade da gestão. Nos bastidores, sabe-se que não é das mais altas.
FAZENDO ÁGUA 1
As chances de Roberto Cláudio na disputa pela reeleição em Fortaleza vão ficar bem mais razoáveis se vingar a articulação para criar um novo partido. No caso, o PL. O projeto é encabeçado pelo ministro Gilberto Kassab com o apoio de Cid Gomes. Depois de criado, o PL se fundiria ao PSD. A ideia é atrair deputados de todos os partidos, incluindo o PMDB. Assim, já nasceria com uma grande bancada, garantindo um bom tempo na TV para a disputa de 2016. Em tese, o prefeito de Fortaleza seria um dos novos filiados. Tudo parecia correr bem até a eleição de Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara dos Deputados. Como o alvo do PL é também sugar força do PMDB, Cunha tratou de desmontar o projeto.
FAZENDO ÁGUA 2
Uma das primeiras medidas de Eduardo Cunha na Presidência da Câmara foi aprovar a urgência para apreciação do projeto apresentado pelo líder do DEM, Mendonça Filho (PE), determinando que um partido recém-criado precisa aguardar cinco anos a partir da obtenção do registro definitivo para fundir-se a outra legenda. Ou seja, se for adiante, o projeto de lei mata em boa parte o esforço e o sentido de se criar o PL. O texto tem aval do PMDB. Não foi à toa que Cid Gomes foi um dos primeiros a protestar contra o critério estabelecido no projeto. Ficou no protesto. A proposta já será analisada pela Câmara na semana que vem. Detalhe: esse projeto trouxe à tona outros textos que ampliam as punições a parlamentares que deixarem suas legendas.
EM DOBRO
Duas crises já no início da gestão de Camilo Santana. A primeira é política: O deputado estadual e pastor David Durand (PRB) pediu exoneração do cargo de Secretário de Esportes. A decisão foi tomada pelo partido que, em nota, reclamou do esvaziamento da pasta e da falta de autonomia do secretário para montar a equipe. Nesse sentido, a reclamação é quase geral. A outra crise é administrativa e até mais grave. A fuga de perigosos bandidos que estavam na Delegacia de Capturas foi um duro golpe na política de segurança. Numa movimentada delegacia, as grades foram serradas. Gente acusada de dezenas de assassinatos de volta às ruas. Péssima notícia para uma área pródiga em fatos negativos e com imensa dificuldade em estabelecer uma agenda de resultados.
TRIÂNGULO
O mercado político está apostando que Camilo Santana não conseguirá finalizar três grandes obras herdadas de Cid Gomes: o Acquario Ceará, o VLT e a linha leste do metrô. A Setur já declarou que o Acquario vai ficar pronto somente em outubro de 2017. Ou seja, no fim do terceiro ano da gestão. Como é peculiar, novos atrasos devem ocorrer. O VLT virou um penoso problema para o governador. Não há empreiteiras disponíveis para continuar o serviço pelo preço que o Governo está oferecendo. Já a linha subterrânea do metrô depende quase que exclusivamente de verbas federais. Diante do arrocho do Ministério da Fazenda, não haverá recursos tão cedo para a obra.
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