As recomendações de Samuel Pinheiro

Secretário-geral do Itamaraty no governo Lula, Pinheiro diz que Dilma Rousseff deveria participar mais das relações exteriores brasileiras
por André Barrocal - CartaCapital:
Secretário-geral do Itamaraty sob Lula, Samuel Pinheiro Guimarães foi um dos responsáveis pelo protagonismo internacional conquistado pela chancelaria brasileira na década passada. Até hoje é referência para os diplomatas jovens, compostos de uma maioria que ingressou na carreira graças às verbas e aos concursos negociados por Guimarães com o Planalto e a equipe econômica. Depois da primeira gestão de Dilma Rousseff, o embaixador não tem dúvidas sobre a raiz das turbulências no Ministério das Relações Exteriores: “Falta uma participação pessoal maior da presidenta”.
Ao envolver-se pouco com política externa, Dilma gera consequências dentro e fora do Brasil. Diante da sensação de desprestígio que tomou conta de uma das maiores chancelarias do mundo, é compreensível, diz Guimarães, o engajamento de diplomatas nas campanhas de Aécio Neves e Marina Silva. “O Itamaraty não é uma ONG que dá palpite. É um órgão de ação política da Presidência.”
No primeiro mandato, a presidenta negou-se a atender ligações do seu colega do Equador, Rafael Correa, durante ao menos seis meses, situação capaz de complicar outro chefe de Estado. “Esses telefonemas são feitos por assessores, eles veem a dificuldade do presidente de ser atendido e começam a pensar que ele está sem prestígio no maior país da região. E aí podem correr comentários.”
Sem a retração do Itamaraty, o Brasil talvez tivesse lidado melhor com a crise econômica global. No ano passado, o País registrou seu primeiro déficit comercial do século, de 3,9 bilhões de dólares. “Quem promoveu o Brasil no exterior no governo Lula foi o Itamaraty, não a Agência Brasileira de Promoção de Exportações”, afirma Guimarães.
Segundo ele, a explicação para Dilma ter outra postura na comparação com o antecessor é a biografia. Antes da Presidência, Lula fez 110 viagens internacionais. Por ser nordestino e metalúrgico, conhecia na pele a importância das relações com os subdesenvolvidos e miscigenados países da América do Sul e da África. Já a sucessora quase não foi ao exterior, mesmo quando ministra. Por ser filha da classe média e ter estudado em colégio de freiras da elite de Belo Horizonte, onde era costume falar bom dia em francês, tem uma visão mais teórica sobre certas coisas da vida.
Apesar de tudo, Guimarães, eleitor da petista, acredita em um segundo mandato melhor. Mas insiste: “O que é importante não está nos jornais. Tem de conversar com a Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, e com o Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, para saber o que eles pensam”.
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