Armador suspeita de pirataria. Seria o primeiro caso do género naquela zona da costa africana. Navio estava ao serviço da empresa Sonangol.
Pirataria somali. Fenómeno pode ter chegado à costa angolana MOHAMED DAHIR/AFP
Um petroleiro grego ao serviço da empresa petrolífera angolana Sonangol, com 27 tripulantes a bordo, está desaparecido desde domingo, quando se encontrava ao largo da costa de Luanda. A tripulação é formada por marinheiros de nacionalidade indiana e filipina.
O armador admite que se trate de um caso de pirataria, o que, a confirmar-se, seria o primeiro episódio do género tão a sul na costa ocidental africana. “Suspeitamos que piratas tomaram o controlo do navio mas não está ainda confirmado”, indica um comunicado divulgado há dois dias pela Dynacom Tankers Management, que tem sede em Atenas, citado pela AFP.
A Sonangol informou esta sexta-feira ter alertado as autoridades para o desaparecimento e confirmou ter perdido o contacto M/T Kerala, de bandeira liberiana, desde dia 19. O navio tinha sido abastecido de combustível no porto de Luanda. Em declarações à imprensa, a Marinha angolana disse estar a fazer buscas mas não confirmou que se trate de uma acção de pirataria.
A agência de segurança marítima Dryad e observadores angolanos receiam que se trate, de facto, de um caso de pirataria, o que representaria uma extensão, para sul de acções de grupos supostamente nigerianos que têm actuado mais a norte, no golfo da Guiné, próximo a Nigéria, o principal produtor africano de petróleo. Angola é o segundo.
Ao contrário do que acontece ao largo da Somália, na costa oriental de África, nesta região do continente não há missões de patrulhamento anti-pirataria.
Os petroleiros tomados por piratas alegadamente nigerianos são por vezes abandonados depois de transferido o combustível para embarcações mais pequenas, explica a Reuters.
Há uma semana, o Internacional Maritime Bureau da Câmara de Comércio Internacional informou que a pirataria marítima caiu 40% desde 2011 e atingiu em 2013 o ponto mais baixo dos últimos seis anos. No ano passado foram registados 264 ataques.
"A maior razão para a queda da pirataria em todo o mundo é a diminuição da pirataria na Somália", disse Pottengal Mukundan, director do Internacional Maritime Bureau, entidade independente que monitoriza a pirataria desde 1991.
A produção petrolífera em Angola está estagnada, o trabalho em curso avança lentamente e a concessão de novas explorações foi revista e adiada, escreve a consultora Petroleum Economist, contrariando a visão tradicional de pujança do sector.
Na análise, assinada por Martin Quinlan, a que a Lusa teve acesso, escreve-se que "a crescente produção de petróleo em Angola alimentou a China, espantou os Estados Unidos e ajudou a salvar o mundo de preços de crude ainda mais altos", mas acrescenta-se que, "nos últimos tempos o país perdeu-se: a produção estagnou, o trabalho de desenvolvimento avança aos solavancos, e uma planeada oferta de exploração foi revista e adiada".
No relatório que analisa o sector do petróleo em Angola, não só do ponto de vista técnico, mas também das suas ligações ao mundo da política, e em particular aos governantes ou pessoas próximas, pode ler-se que "há quem diga que a perda de foco reflete um vazio político, possivelmente relacionado com os planos de José Eduardo dos Santos, que dirige o país desde 1979, retirar-se". O Presidente de Angola, "conhecido pela sua gestão ao pormenor do sector petrolífero", esteve fora de Angola "durante um longo período no último verão e houve rumores de que foi a Espanha receber tratamento médico".
O documento, com o título 'Angola nas calmas' ('Angola in the doldrums', no original), explica que apesar de o ministro do Petróleo, José Maria Botelho de Vasconcelos, ocupar o cargo há cinco anos, "é evidente que é dos Santos que conduz as matérias políticas" e sublinha que foi o actual Presidente que "abordou as empresas norte-americanas durante a guerra civil, que implementou as vantagens fiscais que encorajaram as companhias a estender a busca por petróleo às 'ultra-caras' águas profundas".
Sobre as empresas petrolíferas a operar no país, o relatório da Petroleum Economist diz que elas se queixam de "lentidão na resposta até às perguntas rotineiras, e nada acontece em termos contratuais até as mais altas instâncias do Governo acenarem com a cabeça".
As autoridades, continua o relatório, "parecem alheias aos problemas da indústria - no princípio do ano, a Sonangol disse que a produção do país estava bem encaminhada para chegar aos 2 milhões de barris por dia em 2016, mas em Novembro o ministro do Petróleo antecipou essa data para 2015, mas na realidade a produção vai provavelmente abrandar porque os poços mais antigos nas águas profundas estão a secar rapidamente".
Na análise mais técnica, o autor do relatório, Martin Quinlan, argumenta que "a produção atingiu o pico em 2008, com 1,85 milhões de barris por dia, mas desde então deslizou, e tem estado estagnada nos últimos anos".
Como os poços mais antigos "estão a perder produção na ordem dos 10% ou mais por ano, as novas empresas só compensaram as perdas", acrescenta, citando os números da Agência Internacional de Energia para sustentar que a produção ficou-se pelos 1,78 milhões de barris em 2012 e nos 1,74 milhões nos primeiros onze meses do ano passado".
O panorama agrava-se com a lentidão nos procedimentos: "Os desenvolvimentos nas licenças para os poços profundos e ultra-profundos, necessários para compensar o declínio dos mais antigos, não estão a processar-se suficientemente rápido. Há três anos que não há nenhum grande desenvolvimento em termos de lançamento de projetos em águas profundas, e os que estão projectados só deverão estar a funcionar em 2016 ou 2017", conclui o relatório.
A Petroleum Economist apresenta-se como "a autoridade em energia, oferecendo informações reservadas e opiniões sobre os eventos e as pessoas que moldam o mercado global da energia" e afirma ser "o recurso de informação sem o qual os estrategas da energia não conseguem fazer negócios".
A consultora diz ainda, no seu site, que os relatórios são "actualizados diariamente por uma equipa de jornalistas em Londres, Singapura e Calgary", no Canadá.
Comentários
COPA PRA QUEM ????
FALEM DOS ESTADOS UNIDOS.
$$$$
MEUS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.
$$$$
SÃO BONS PRA FALAR DOS ESTADOS UNIDOS.
MEU ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.
$$$$
PÚBLICO
24/01/2014 - 14:34
Armador suspeita de pirataria. Seria o primeiro caso do género naquela zona da costa africana. Navio estava ao serviço da empresa Sonangol.
Pirataria somali. Fenómeno pode ter chegado à costa angolana MOHAMED DAHIR/AFP
Um petroleiro grego ao serviço da empresa petrolífera angolana Sonangol, com 27 tripulantes a bordo, está desaparecido desde domingo, quando se encontrava ao largo da costa de Luanda. A tripulação é formada por marinheiros de nacionalidade indiana e filipina.
O armador admite que se trate de um caso de pirataria, o que, a confirmar-se, seria o primeiro episódio do género tão a sul na costa ocidental africana. “Suspeitamos que piratas tomaram o controlo do navio mas não está ainda confirmado”, indica um comunicado divulgado há dois dias pela Dynacom Tankers Management, que tem sede em Atenas, citado pela AFP.
A Sonangol informou esta sexta-feira ter alertado as autoridades para o desaparecimento e confirmou ter perdido o contacto M/T Kerala, de bandeira liberiana, desde dia 19. O navio tinha sido abastecido de combustível no porto de Luanda. Em declarações à imprensa, a Marinha angolana disse estar a fazer buscas mas não confirmou que se trate de uma acção de pirataria.
A agência de segurança marítima Dryad e observadores angolanos receiam que se trate, de facto, de um caso de pirataria, o que representaria uma extensão, para sul de acções de grupos supostamente nigerianos que têm actuado mais a norte, no golfo da Guiné, próximo a Nigéria, o principal produtor africano de petróleo. Angola é o segundo.
Ao contrário do que acontece ao largo da Somália, na costa oriental de África, nesta região do continente não há missões de patrulhamento anti-pirataria.
Os petroleiros tomados por piratas alegadamente nigerianos são por vezes abandonados depois de transferido o combustível para embarcações mais pequenas, explica a Reuters.
Há uma semana, o Internacional Maritime Bureau da Câmara de Comércio Internacional informou que a pirataria marítima caiu 40% desde 2011 e atingiu em 2013 o ponto mais baixo dos últimos seis anos. No ano passado foram registados 264 ataques.
"A maior razão para a queda da pirataria em todo o mundo é a diminuição da pirataria na Somália", disse Pottengal Mukundan, director do Internacional Maritime Bureau, entidade independente que monitoriza a pirataria desde 1991.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/petroleiro-desaparecido-ao-largo-de-angola-1620958
24 de Janeiro, 2014
A produção petrolífera em Angola está estagnada, o trabalho em curso avança lentamente e a concessão de novas explorações foi revista e adiada, escreve a consultora Petroleum Economist, contrariando a visão tradicional de pujança do sector.
Na análise, assinada por Martin Quinlan, a que a Lusa teve acesso, escreve-se que "a crescente produção de petróleo em Angola alimentou a China, espantou os Estados Unidos e ajudou a salvar o mundo de preços de crude ainda mais altos", mas acrescenta-se que, "nos últimos tempos o país perdeu-se: a produção estagnou, o trabalho de desenvolvimento avança aos solavancos, e uma planeada oferta de exploração foi revista e adiada".
No relatório que analisa o sector do petróleo em Angola, não só do ponto de vista técnico, mas também das suas ligações ao mundo da política, e em particular aos governantes ou pessoas próximas, pode ler-se que "há quem diga que a perda de foco reflete um vazio político, possivelmente relacionado com os planos de José Eduardo dos Santos, que dirige o país desde 1979, retirar-se". O Presidente de Angola, "conhecido pela sua gestão ao pormenor do sector petrolífero", esteve fora de Angola "durante um longo período no último verão e houve rumores de que foi a Espanha receber tratamento médico".
O documento, com o título 'Angola nas calmas' ('Angola in the doldrums', no original), explica que apesar de o ministro do Petróleo, José Maria Botelho de Vasconcelos, ocupar o cargo há cinco anos, "é evidente que é dos Santos que conduz as matérias políticas" e sublinha que foi o actual Presidente que "abordou as empresas norte-americanas durante a guerra civil, que implementou as vantagens fiscais que encorajaram as companhias a estender a busca por petróleo às 'ultra-caras' águas profundas".
Sobre as empresas petrolíferas a operar no país, o relatório da Petroleum Economist diz que elas se queixam de "lentidão na resposta até às perguntas rotineiras, e nada acontece em termos contratuais até as mais altas instâncias do Governo acenarem com a cabeça".
As autoridades, continua o relatório, "parecem alheias aos problemas da indústria - no princípio do ano, a Sonangol disse que a produção do país estava bem encaminhada para chegar aos 2 milhões de barris por dia em 2016, mas em Novembro o ministro do Petróleo antecipou essa data para 2015, mas na realidade a produção vai provavelmente abrandar porque os poços mais antigos nas águas profundas estão a secar rapidamente".
Na análise mais técnica, o autor do relatório, Martin Quinlan, argumenta que "a produção atingiu o pico em 2008, com 1,85 milhões de barris por dia, mas desde então deslizou, e tem estado estagnada nos últimos anos".
http://sol.sapo.pt/Angola/Interior.aspx?content_id=97640
Como os poços mais antigos "estão a perder produção na ordem dos 10% ou mais por ano, as novas empresas só compensaram as perdas", acrescenta, citando os números da Agência Internacional de Energia para sustentar que a produção ficou-se pelos 1,78 milhões de barris em 2012 e nos 1,74 milhões nos primeiros onze meses do ano passado".
O panorama agrava-se com a lentidão nos procedimentos: "Os desenvolvimentos nas licenças para os poços profundos e ultra-profundos, necessários para compensar o declínio dos mais antigos, não estão a processar-se suficientemente rápido. Há três anos que não há nenhum grande desenvolvimento em termos de lançamento de projetos em águas profundas, e os que estão projectados só deverão estar a funcionar em 2016 ou 2017", conclui o relatório.
A Petroleum Economist apresenta-se como "a autoridade em energia, oferecendo informações reservadas e opiniões sobre os eventos e as pessoas que moldam o mercado global da energia" e afirma ser "o recurso de informação sem o qual os estrategas da energia não conseguem fazer negócios".
A consultora diz ainda, no seu site, que os relatórios são "actualizados diariamente por uma equipa de jornalistas em Londres, Singapura e Calgary", no Canadá.
Lusa/SOL
http://sol.sapo.pt/Angola/Interior.aspx?content_id=97640