Hipocrisia de Mirian Rios

Enviado pelo editor Júlio Amorim - São Paulo
por Fátima Oliveira, em OTEMPO
 - Médica – fatimaoliveira@ig.com.br
Missionária da Canção Nova, comunidade católica de renovação carismática, a atriz e deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ), que é mineira, primou pela carolice exacerbada. Com seus melhores trejeitos de atriz, verbalizou: “Não poder discriminar homossexuais é abrir uma porta para a pedofilia” (23.6.2011).
Ela tem todo o direito de professar a sua fé como desejar, desde que não cause danos a outrem e sem esquecer que as experiências do sagrado são diversas – nem todas atentam contra os direitos humanos – e que, em território brasileiro, nenhuma religião está acima da lei.
A homofóbica deputada propala inverdades e ousa reclamar pelo direito de discriminar a condição homossexual! Sendo ela de uma facção católica, se tivesse intenção de combater o crime de pedofilia, seu mandato denunciaria a pedofilia clerical de sua igreja. Lamento que o partido de Brizola, o PDT, acolha gente de tal naipe.
É inegável que são ideias incompatíveis com inúmeros estudos sociológicos, com os saberes das biociências e com a própria vida, que já demonstraram que homossexualidade é uma coisa e pedofilia é outra e uma não leva necessariamente à outra! Por que ela tenta embolar o meio de campo?
Não o faz por ignorância, mas por omissão e desfaçatez políticas, esquecendo-se de que integra um ramo do cristianismo que há séculos imola sexualmente crianças, jovens e mulheres; e que santifica a maternidade e sataniza as mulheres. É público que, diante da pedofilia clerical, a omissão do Vaticano tem sido a regra, pois compactua e dá guarida a um signo maldito da dupla moral sexual – crimes clericais de natureza sexual, como registrei em “O Vaticano arde nas labaredas do inferno por causa da pedofilia”: “O furacão da pedofilia, depois dos Estados Unidos e da Europa, chegou à Alemanha, pátria do papa, depois na diocese do papa, agora dentro do Vaticano, na Congregação da Doutrina da Fé, onde o cardeal Joseph Ratzinger foi prefeito – por 24 anos, de 1981 a 2005 -, apontando para a sua responsabilidade direta” (O TEMPO, 30.3.2010).
Em março de 2010, um irmão de Bento XVI, Georg Ratzinger (87 anos), apareceu como um dos envolvidos no escândalo de pedofilia quando era diretor musical do colégio interno de Ratisbona (1963-1994). Ele tem negado. Em seu papado, Bento XVI só se mexeu quando a Igreja Católica começou a perder patrimônio, vendendo igrejas para pagar indenizações das vítimas, o que o obrigou, no encontro com bispos irlandeses, a declarar que a pedofilia era crime hediondo e pecado grave – até então, nem pecado era!
Em 2011, no rastro da notícia de que vítimas belgas de padres pedófilos processariam o papa, o Vaticano, em carta aos bispos, resume as práticas adotadas na Alemanha, na Áustria, na Bélgica, nos EUA, na Holanda, na Irlanda, na Itália e em vários países da América Latina para enfrentar o sangradouro de dinheiro nos tribunais e recomenda que “os membros do clero suspeitos de pedofilia sejam entregues às autoridades civis competentes” (15.5.2011).
A assessoria de imprensa do Vaticano anunciou para fevereiro de 2012, em Roma, uma reunião de bispos e chefes de congregações religiosas para dar uma “resposta global aos problemas de pedofilia”, segundo as diretrizes de luta contra a pedofilia formuladas em maio passado pela Congregação da Doutrina da Fé (13.6.2011). Ou seja, enquanto não meteu a mão no bolso, a Santa Sé não tomou providências.
Desconheço pronunciamento da deputada a respeito da pedofilia clerical. Está passando da hora de fazê-lo!
PS.: só para lembrar da hipocrisia que ronda pessoas como essa atriz e atendendo a pedidos segue matéria de CartaCapital!
Carta Capital n˚ 650
Igreja Católica, Fruto Podre
Carmelo Abbate – Em novo livro, o jornalista revela a existência de milhares de padres hétero e homossexuais em plena atividade
A Paolo Manzo
“O Sexo e o Vaticano”, o ensaio publicano no fim do mês de abril na Itália e na França pelo jornalista Carmelo Abbate, tem seu início no relato de uma festa muito especial e de uma investigação que teve a duração de mais de um ano. O livro, uma viagem secreta no “reino dos castos”, realizada por um undercover repórter, ele mesmo, Abbate, provocou a pronta reação do Vaticano. Uma nota oficial do Vicariato de Roma convidou os padres envolvidos a “sair ao descoberto”. Além da vergonha da pedofilia, a Igreja de Roma padece de um enorme problema quanto a todos os temas relacionados com a sexualidade, a começar pelo celibato de padres e freiras. O livro revela a existência de sacerdotes de todas as nacionalidades que se dividem entre cerimônias religiosas e as atrações da noite romana. Padres com vida dupla.
Experiências de escort e chat. Seminaristas e freiras que vivem escondendo a própria sexualidade, seja ela hétero ou homossexual. O problema dos filhos do sacerdotes e de suas mães que enviaram ao Papa Bento XVI um documento secreto para relatar a sua difícil situação. Prelados envolvidos nas batidas de polícia contra a prostituição. Relatos de abortos clandestinos, estes em grande número, e pedidos de adoções para libertar-se dos “frutos do pecado”. Sem contar um rio de dinheiro para comprar o silêncio dos amantes ou para acompanhar o crescimento dos meninos “incômodos”. Sex and the Vatican está para ser editado nos EUA e, ao que tudo indica, no Brasil.
CartaCapital: Como nasceu a idéia de escrever este livro?
Carmelo Abbate: Tudo nasceu por um acaso. Um amigo homossexual me chamou, isso em junho de 2010, e falando disso e daquilo diz de improviso: “você nem imagina o que me aconteceu ontem”. Ele estava em uma sauna gay em Roma, e aí teve uma relação sexual com outro frequentador, e até aqui nada de extraordinário. O outro oferece uma carona no seu carro, ele aceita e ali descobre um colarinho e outros objetos clericais. Encara o companheiro e este admite: “Sim, sou padre”. Conta então que isso é uma coisa normal, que é francês e que muitos padres vivem tranquilamente a própria sexualidade. Em seguida fala de “certa festa” que aconteceria na semana seguinte em Roma, com a presença de outros padres e também escorts masculinos. O padre gay não me surpreendeu, mas queria verificar a história, também porque aquele sacerdote não era um padre qualquer; ele celebrava a missa todas as manhas, às 7 horas na Basílica de São Pedro.
CC: Por isso decidiu infiltrar-se na tal festa?
CA: Sinceramente, tinha mais de uma dúvida e queria verificar. Mas era tudo verdade. Consegui entrar na festa me apresentando como namorado de meu amigo. Estavam presentes muito prelados.
CC: Medo?
CA: Houve um momento em que pensei que minha situação era insegura quando ouvi um imigrante clandestino, no Sul da Itália, relatando fatos relacionados com os “gatos”, que recolhiam tomates no meio das serras.
CC: Nunca pensou em desistir?
CA: Não, porque entra em ação a adrenalina e, como consequência, você quer levar a termo a sua investigação, quer verificar o que realmente acontece, somente por isso resisti.
CC: Que fim levou o padre francês?
CA: Procurei diretamente a Santa Sé, que não respondeu. Quem foi às missas das 7 em São Pedro, depois da publicação do livro, não o viu mais. Algumas semanas atrás, o jornal La Repubblica verificou que os padres citados em minha investigação inicial, cujos resultados foram divulgados pela revista Panorama, acabaram em algum lugar secreto, para refletir e decidir se pretendem abandonar os votos. Espero que não sejam eles a pagar por todos, porque a reação oficial do Vaticano fala de “casos isolados”. A minha motivação ao escrever o livro foi descobrir que não se trata de três, quatro, cinco frutos podres. Estamos diante de um fenômeno amplo, do qual não conhecemos a exata entidade.
CC: Qual é a conclusão?
CA: Descobri que a Igreja é um gigantesco fruto podre, e que, então, não se pode enfrentar o problema da sexualidade explorando a situação de um punhado de sacerdotes que erram. O fenômeno é extenso e importante. Além das orgias homossexuais, penso em tantos casos que me permitem descrever em detalhes as peripécias dos inúmeros padres envolvidos com mulheres. Quando estas engravidam, são aconselhadas ao aborto pelos colegas de quem as engravidou, às vezes pelo bispo da diocese. Penso na alternativa, ou seja, no número das mulheres dos padres que dão luz às escondidas e, em troca, recebem um salário mensal de, aproximadamente, 1,5 mil euros até quando os “filhos do pecado” alcancem a maioridade. Dinheiro da Igreja pago em troca do silêncio. É terrível, principalmente por causa dessa duplicidade moral, que representa o sentido real do meu livro. De um lado, quem está no interior da instituição tudo pode, desde que possa salvaguardar o bem maior, ou seja, as aparências. Entre o pecado e o escândalo a Igreja escolhe o pecado escondido e a mensagem é: você, padre ou freira, pode continuar a pecar, contanto que não crie caso. Do outro lado fica a Igreja, que não somente condena o aborto, mas também a contracepção, e condena separados e divorciados. Alguns dias atrás, em Treviso, uma mulher disse ao confessor que iria casar com um homem separado e o padre a expulsou do confessionário, recusando absolvê-la por um pecado ainda não cometido. Uma tragédia para uma fiel convicta, que escreveu aos jornais denunciando o acontecido. E nem falemos da menina brasileira de 9 anos que, estuprada pelo padrasto, sofreu o aborto dois anos atrás, porque, além da pouca idade, era desnutrida e teria morrido em caso de parto. Os médicos responsáveis e a mãe da pequena foram excomungados pelo arcebispo de Olinda e Recife. Quando o pai natural é um padre que se relacionou sexualmente com mulheres de idade, conscientes, e na maioria das vezes, apaixonadas, os bispos aconselham o aborto. Esta é a dupla moral inaceitável.
CC: Quais foram as repercussões do livro?
CA: Por minha sorte saiu contemporaneamente também na França e, considerando que somente os Alpes nos separam, em Paris sinto-me como em casa, graças à imprensa e às televisões. O que me impressionou foi que no exterior falou-se abertamente dos assuntos levantados no livro, como é normal, considerando a gravidade dos fatos apresentados. Ao contrário, na Itália, nada. A tal ponto que a respeito dessa “lei do silêncio”escreveu uma longa reportagem o diário britânico The Guardian, chamando a Itália de “Vaticália”. Bem além dos meus merecimentos ou deméritos, quando, em 21 de abril o livro saiu, a France Press tentou recolher também a opinião da Santa Sé e da Conferência Italiana dos Bispos. Responderam: “não temos nada a dizer. Não façam publicidade desse livro”. Certo é que, na Itália, o livro não foi resenhado.
CC: Conforme sua apuração, quantos padres no mundo não respeitariam o celibato?
CA: Segundo a minha fonte nos EUA, Richard Sipe, com 11 livros sobre o assunto, universalmente reconhecido como o maior expert em sexualidade na Igreja Católica, 25% dos padres dos EUA tiveram relações com mulheres depois da ordenação, enquanto outros 25% estão envolvidos em relações homossexuais. Estamos, pois, falando da metade dos sacerdotes norte-americanos que não respeitam as normas da castidade. Para Dom Franco Barbero, padre italiano excomungado que se ocupa desse tema, na Alemanha, de 18 mil sacerdotes católicos, pelo menos 6 mil vivem com uma mulher, mesmo de forma escondida. Na Itália, não existe nenhuma tentativa de pesquisa, nada de nada, o único dado chega novamente de Barbero que, depois de ter sido excomungado, foi procurado por mais de 3 mil sacerdotes homossexuais que manifestaram o próprio sofrimento. No Brasil, enfim, o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) realizou uma pesquisa anônima com 758 padres brasileiros: 41% admitiram ter tido relações sexuais e a metade deles se pronunciou contra o celibato. Com toda certeza, esses dados nos dizem que nos encontramos diante de um monumental problema para a Igreja Católica, ou seja, a dupla vida de boa parte do clero.
CC: E qual seria a causa?
CA: O vínculo do celibato não funciona. É um dado de fato. Falamos disso ou queremos fingir que o fenômeno não existe? Ou melhor, quem é realmente o verdadeiro católico, aquele que se preocupa com a sorte da Igreja, aquele que enfrenta o problema ou aquele que finge não ver? Eu, que sou católico, casado na Igreja e com dois filhos, escrevi sobre isso. Pena que o Vaticano hoje me encare como um anticristo.

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