“As pessoas não podem vender uma neutralidade disfarçada”, disse Lula

altamiro borges 
Carta Capital: Os principais veículos de comunicação estão preocupados com a falta de liberdade de expressão, acreditem, no Brasil. Em São Paulo, ato público no Sindicato dos Jornalistas, contesta que a democracia esteja ameaçada. Foto: Bruno Huberman
Quem esperava que no último final de semana antes das eleições viessem novas denúncias “bomba” contra o governo federal e a candidata Dilma Rousseff ficou frustrado. Folha, Estadão, Globo e Veja preferiram se alinhar na cruzada contra o suposto autoritarismo do presidente Lula e as ameaças à liberdade de imprensa. Cada qual à sua maneira.
Folha de S.Paulo adverte: como já fez em alguns raros momentos críticos atravessados pelo País, a Folha de domingo jogou seu editorial para a capa, com o título “Todo poder tem limite”. Ali discorre sobre a prepotência do presidente e, depois de afirmar que “procura manter uma orientação de independência, pluralidade e apartidarismo” conclui com toda humildade que lhe é peculiar:
“Fiquem ambos (o presidente Lula e sua candidata) advertidos, porém, de que tais bravatas (suas respostas às críticas de parte da imprensa) somente redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas – e qualquer governo terá de violar cláusulas pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo”.
Veja atemoriza: na capa da revista aparece em grandes letras a manchete “A Liberdade sob Ataque: a revelação de evidências irrefutáveis no Palácio do Planalto renova no presidente Lula e seu partido o ódio à imprensa livre”. Como ilustração, desta vez não aparece o “polvo” das três capas anteriores, mas uma estrela petista rasgando a Constituição em seu Capítulo V, aquele que legisla sobre a Comunicação.
O Globo mobiliza: “Cresce apoio a manifesto pela imprensa: lançado na quarta-feira, documento já havia obtido 35,6 mil assinaturas de adesão, até a tarde de ontem”, este foi o título e o “olho” da matéria que ocupava metade página 9 da sua edição dominical. Em outro artigo que se dirigia ao presidente Lula, na mesma página, a pergunta: “Por que tanta raiva?”.
Estadão assume: no editorial de domingo o jornal resolveu declarar abertamente seu apoio ao candidato José Serra, como conclusão de uma análise na qual também destaca os riscos que atravessamos com o fortalecimento de uma visão autoritária de poder.
Dos quatro veículos com discurso monotemático o jornal dos Mesquita foi o único a responder positivamente ao apelo que o presidente Lula lançou na última quinta-feira 23 em entrevista ao portal Terra. Disse então o presidente: “A imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem partido. Seria mais simples, mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada”.
Lula falou mais “eles preferem fingir que não têm lado”. E concluiu “duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste país, da parte do governo”.
Não dá para discordar do presidente. Vivemos em plena democracia e ela não está nem um pingo ameaçada, ao contrário do apregoado pelos quatro veículos. É esta democracia que permite aos órgãos de imprensa assumir abertamente suas predileções nas eleições, como ocorre na maioria dos países democráticos. Por conta disso, CartaCapital explicitou sua opção em 2010, como fez em 2002 e 2006. Domingo, o Estadão também fez a sua, aberta e claramente. O leitor define o que prefere ler. Tem quatro opções: ler um, ler outro, ler os dois ou nenhum deles. É exatamente assim que acontece numa democracia, é assim que ela se solidifica.
Já a manipulação, o fingimento e a dissimulação são típicos de regimes autoritários. Confundem, ou tentam confundir, o leitor, o eleitor.
O leitor deste site é convidado a dar aqui sua opinião.
Celso Marcondes - Celso Marcondes é jornalista, editor do site e diretor de Planejamento de CartaCapital. celso@cartacapital.com.br

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