
Inflexão das Américas
Por questões ideológicas e em razão da afasia jornalística dos grandes meios de comunicação latino-americanos, esta parte do mundo discute muito pouco um dos fenômenos sócio-políticos continentais mais importantes da história da humanidade.
As décadas de 1980 e de 1990 foram marcadas pelo aprofundamento de políticas públicas praticamente genocidas - e desastrosas, do ponto de vista econômico. Pelo liberalismo econômico e pela indiferença das elites indo-européias latino-americanas e estadunidenses diante dos dramas sociais da região, vigentes desde a descoberta do continente americano, as Américas foram transformadas em um inferno.
Enquanto distraía o mundo com a “pobreza” cubana, país pobre em que a pobreza é muito menor do que nos EUA, este sempre abrigou legiões de excluídos negros e hispânicos, que vêm vivendo como se estivessem num país periférico.
Porém, tornando-se um oásis num mundo desigual, o Velho Mundo atraiu imigração de todas as partes, fazendo dos estrangeiros que por lá iam tentar a vida a classe excluída que exterminara entre seus nacionais. Ainda assim, a Europa não deixou que o caos social transformasse as nações que a compõem nas verdadeiras zonas de guerra civil não-declarada que há na América Latina, ou no campo minado por guetos em que se transformou o império americano.
A partir do esgotamento do modelo ultraliberal implantado pelo consenso americano-britânico em meados da década de 1980, o ex-presidente americano Ronald Reagan e a então premiê do Reino Unido, Margareth Tatcher, impuseram à América Latina um modelo econômico que tratou de aprofundar as assimetrias sociais, que cresceram junto com os desastres econômicos que se abateram sobre países como Brasil e Argentina, entre outros, tudo por conta daquele consenso americano-britânico, implementado na América pobre por políticos como Carlos Saúl Menem, Fernando Henrique Cardoso ou Alberto Fugimori, entre outros.
A despeito da reação das elites regionais e dos dois governos republicanos do demente George Bush, eleito (por pouco) pelos delírios hegemônicos da metade fanatizada da sociedade estadunidense, eclodiram tentativas dos EUA de impor seu poder à força pelo mundo afora, inclusive com tentativas de derrubada dos governos populares eleitos na América Latina, os quais haviam passado a desafiar abertamente Washington.
A incursão ditatorial e fascista dos EUA no Oriente Médio, que se deu através da força e foi produto do delírio de Bush, desviou seu governo belicista de importantes assuntos internos, tornando o presidente americano um senhor da guerra que deixou a economia degringolar apostando no controle da humanidade através de seus exércitos.
Barack Obama vem se somar a Hugo Chávez, a Evo Morales, a Rafael Correa, a Michele Bachelet, a Luiz Inácio Lula da Silva, a Cristina de Kirschner, a Tabaré Vazquez, a Fernando Lugo, a Daniel Ortega e a outros líderes de esquerda que vêm subindo ao poder nas três Américas, ainda que muitos reneguem o rótulo de esquerdista ao candidato democrata à presidência dos EUA, ignorando que ele representa a esquerda possível naquele país.
Comentários
Sua visão é limpa e clara. O eleitor brasileiro é desinformado da verdade pela atuação infame da mídia direitista, que teima em querer voltar ao poder para fazer o Brasil retroceder politicamente, socialmente e economicamente.
O trabalho de conscientização do povo está por conta de poucas revistas e inúmeros blogs, que só atingem quem tem PC.
Que Deus nos ajude e não nos levem mais uma vez para a contra-mão da história.
Ary Taunay Filho