Recebi hoje, e-mail do ex-funcionário concursado do Banco do Brasil, Ary Taunay Filho, Guiaba, Rio Grande do Sul, demitido sem justa causa no desgoverno de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1995. Achei oportuno divulgar nas páginas do "Desabafo Brasil", desde 1989, os funcionários do Banco do Brasil apoiaram o ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva. Leia na íntegra:

Em 1980 nasceu o PT-Partido dos Trabalhadores na região do ABC Paulista, pequeno mas que adquiria força rapidamente por seu discurso que ia ao encontro dos anseios dos desfavorecidos, dos oprimidos e dos desvalidos. O Sindicato dos Metalúrgicos, nascedouro do partido não possuia representatividade que abrangesse todo o território nacional, fato que dificultava o crescimento da agremiação. Neste momento engajou-se no movimento o maior sindicato do Brasil, O Sindicato dos Bancários, que com a necessária representação nacional possibilitou o rápido surgimento da nova legenda de sul a norte. Crescendo dentro do movimento, dos bancários logo despontaram lideranças, fazendo da classe a espinha dorsal do partido. Já na eleição de Collor o PT conseguiu apresentar-se ao eleitor brasileiro como a grande opção de esquerda, mantendo seu discurso de fundação, somando simpatizantes e militantes principalmente entre estudantes e operariado. Comandados pelos bancários, que pelo contato direto com o público tinham extrema facilidade de disseminar idéias, a juventude trabalhou intensamente contra a eleição de Collor, mas perdeu, embora tenha deixado sinalizado para toda a Nação, que mais cedo ou mais tarde chegariam ao poder pelo voto, podendo implementar suas idéias. Mesmo derrotados continuaram na luta e derrubaram Collor.

Na eleição de Fernando Henrique Cardoso o PT já mostrou que
veio bem estruturado, fazendo com que a eleição fosse ao segundo turno onde Lula e Fernando Henrique centralizaram a atenção do eleitorado. Novamente derrotados, mas já tendo conquistado diversos governos estaduais e sólida representação no Congresso Nacional, o PT crescia mais ainda, pois ao mesmo tempo que outros partidos gastavam muitos recursos no custeio dos pleitos eleitorais, a entidade tinha em sua militância, cada vez mais fortalecida pelo Sindicato dos Bancários, a base de baixo custo de suas conquistas cada vez maiores. O governo neo-liberal de Fernando Henrique assumiu o poder em 1995, óbviamente já com projeto de manter-se por dois mandatos, todavia acossados pela militância petista, não vacilaram no intento de enfraquecer o principal adversário, quebrando a espinha dorsal do Partido dos Trabalhadores, ou seja o Sindicato dos Bancários, fortemente representado pelos funcionários do Banco do Brasil.

Já em 1995 os neo-liberais iniciaram demissões em massa dentro do Banco do Brasil, quer por Plano de Demissão Voluntária, quer por demissões sumárias, milhares de trabalhadores deixaram seus postos de trabalho. Passados quatro anos o Partido dos Trabalhadores ainda não conseguiu chegar ao poder, embora cada vez mais presente nos governos estaduais e no Congresso Nacional, ainda mostrando força popular, despertando ainda mais a ira neo-liberal prosseguiram as demissões do funcionários do Banco do Brasil, chegando ao impressionante número de mais de 40.000 até 2002. Não permitida uma nova reeleição de FHC, o PT de Lula finalmente chegou ao poder, enchendo de esperanças principalmente aqueles que no longínquo 1980, viam a possibilidade de implementar suas idéias.

Os bancários, mesmo enfraquecidos, lutaram sem esmorecer contra a opressão dissimulada do Governo FHC, esperando chegar ao poder e ver reparadas todas as injustiças absorvidas pela classe.
Nenhum segmento da sociedade brasileira sofreu tanta perseguição política durante o governo do PSDB quanto os funcionários do Banco do Brasil, jogados ao desemprego, homens e mulheres de meia idade, suporte de famílias, não conseguiram retornar ao mercado formal de trabalho e sucumbiram ao desespero, ao alcoolismo, a demência e a depressão, mas mantendo a esperança de reparação, que certamente viria com o Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores. Passado o primeiro mandato de Lula nada aconteceu, continuaram à margem da sociedade, usurpados, oprimidos e esquecidos. Mantiveram a esperança e contribuiram mais uma vez reelegendo o Presidente Lula.

Hoje ainda esperam pelo resgate de sua cidadania, mas o Partido dos Trabalhadores, tendo seus membros administrando o Banco do Brasil, virou as costas aos demitidos, não lhes dando sequer o direito de reinvindicar e negociar com a direção do Banco, que blindada ao assédio mostra-se irredutível em tentar reparar, da forma mais branda que seja, as injustiças que foram cometidas.
Estes trabalhadores conquistaram seus postos de trabalho através de concorridos concursos públicos e buscaram no Banco do Brasil o sonho de toda uma vida, assim como tantos outros brasileiros que trilharam o mesmo caminho em quase dois séculos de história da instituição.

O Banco do Brasil embora tenha regime trabalhista celetista, é uma empresa de economia mista, onde o Governo Federal deveria ter buscado dentro do próprio poder público a solução para os aludidos problemas da instituição e nunca buscar a via mais fácil das demissões em massa e da perseguição política. Este relato é histórico e tem por objetivo mostrar que conhecemos a história porque fizemos parte dela e aprendemos entre esperanças frustradas, sonhos, vitórias e derrotas a conhecer o cenário político brasileiro. Aguardamos até agora que aqueles que um dia militaram ombro a ombro conosco e que hoje estão no poder dessem guarida as nossas reivindicações, mas ao invés disso nos deram as costas e nos fadaram ao esquecimento. Mostramos sempre que conhecemos luta e organização, pois assim fizemos em tantas conquistas do PT e neste espírito somado ao conhecimento do quadro político eleitoral, podemos dizer que mesmo consideradas todas as afirmações, pesquisas, declarações controvertidas e tantas outras situações mais, que eleição se decide no voto, na urna e após a contagem não há retorno, restando apenas a alegria dos vencedores e a tristeza dos perdedores.

Sabemos que o próximo pleito presidencial será extremamente difícil para o PT, pois o Presidente Lula é o único candidato forte do partido, mas está impedido pela Constituição Federal e sem ele será difícil manter-se no Governo, motivo maior para o PT buscar todas as forças que puderem somar e nós, membros do MOVIMENTO DOS DEMITIDOS DO BANCO DO BRASIL, abandonados, oprimidos, esquecidos e traídos, certamente não estaremos nestas fileiras desta vez.
Continuamos a ter a mesma força militante e embora já velhos soldados temos nossos filhos e familiares e hoje a força para deslocamento que a idade nos tira, recuperamos com a informatização das comunicações percorrendo longas distâncias em segundos e nos mostrando presentes em vários locais ao mesmo tempo. Nosso abandono, nosso sofrimento e de nossas famílias não será em vão. MOVIMENTO DOS DEMITIDOS DO BANCO DO BRASIL - Blog Excluídos do Banco do Brasil
Contato: arytaunay@uol.com.br

Leia também:
Francisco Gualberto apóia reintegração
de
funcionários demitidos do Banco do Brasil

O projeto de lei que dispõe sobre a reintegração de ex-funcionários do Banco do Brasil demitidos no período de1995 a 2002, apresentado em Brasília pelo senador Inácio Arruda (PC do B/CE), ganhou apoio na Assembléia Legislativa de Sergipe. Nesta semana(28/04/2008), o deputado estadual Francisco Gualberto (PT), líder da bancada governista, apresentou Moção de Apoio ao projeto de autoria do senador Inácio Arruda, considerando a causa muito justa. (Alese).

Comentários

Anônimo disse…
Existem petistas e falsos petistas. Quando em cargo de direção em um sindicato de classe abri as portas para os demitidos dos correios no RJ para que pudessem dar continuidade à luta de reintegração tendo em vista as demissões arbitrárias. Teve gente na minha diretoria que se diziam petistas de carteirinhas que foram contra. Não preciso dizer a que corrente dentro do PT e da CUT eram os militantes. Só sei que deu para definir quem é de fato petista de coração daqueles que usam as instituições para trampolim político sem ter sequer solidariedade. Felizmente são uns poucos.
ARY TAUNAY FILHO disse…
Prezado Amigo Blogueiro,

Só posso agradecer a divulgação do nosso manifesto.
Ary Taunay Filho(autor do texto)