Faz sentido promover a igualdade racial?
A sociedade brasileira apresenta níveis de desigualdades raciais que nem mesmo o mais incauto dos analistas ousa contestar posto que solidamente comprovados em análises de instituições nacionais e internacionais com base em dados oficiais. Há uma profusão de dados e estudos que podem ser citados.Talvez o mais eloqüente deles nesse momento seja o relatório divulgado em Janeiro de 2008 pela UNICEF que conclui que “As crianças são especialmente vulneráveis às violações de direitos, à pobreza e à iniquidade no País. As crianças negras, por exemplo, têm quase 70% mais chances de viver na pobreza do que as brancas; o mesmo pode ser observado para as crianças que vivem em áreas rurais” (Situação Mundial da Infância 2008 – Caderno Brasil. UNICEF; Brasília, 2008, p. 9). Esses dados configuram um grave quadro, já que sabemos que condições de pobreza e exclusão na infância indicam dificuldades durante toda a vida dos indivíduos.

O diagnóstico sobre a origem dessa situação alcança razoável consenso: o legado de 300 anos de escravidão; o fracasso de políticas públicas universalizantes que operam, na prática, em contradição com o ideal de que todos sejam tratados sem distinção. Entretanto, as estratégias e medidas a serem adotadas – ou até mesmo se algo deve ser feito – para combater as desigualdades raciais estão longe de alcançar consenso. Políticas de ação afirmativa, entre as quais, as famosas cotas, provocam acalorado debate na sociedade. A busca para garantir o reconhecimento das comunidades quilombolas às terras que ocupam há séculos é igualmente polêmica e conflituosa. Isso é natural. Pouco tempo após o fim da escravidão, enquanto o Estado embarcava em um projeto de embranquecimento da população, via incentivo à imigração de grupos etnicamente desejáveis, intelectuais consagraram nossas relações raciais como harmoniosas. Assim, nascia o mito da democracia racial segundo o qual seríamos uma sociedade abençoada pela ausência total de preconceito e práticas discriminatórias e com absoluta integração entre as pessoas.

Socializados nesse ideário, repito, é natural que muitos rejeitem a adoção de políticas públicas de promoção da igualdade racial. Mesmo formadores de opinião, com espaço nobre nos meios de comunicação, tão produto da nossa sociedade quanto qualquer outra pessoa, ignoram todo o processo histórico e evidências contemporâneas. Chegam mesmo a caracterizar qualquer iniciativa de promoção da igualdade racial como alienígena e imprópria, desqualificando seus proponentes. De fato, é compreensível que do lugar do privilégio e conforto social algumas pessoas defendam as condições que geram tal situação. Entretanto, as políticas públicas de promoção da igualdade racial vieram para ficar. Não é mais possível camuflar as contradições da nossa sociedade e suas desigualdades sob o manto de uma suposta harmonia que serve apenas para negar a milhões de homens e mulheres o acesso aos bens e serviços sociais que devem estar ao alcance de todos. Janete Rocha Pietá é deputada federal (PT/SP). PT NACIONAL.

Comentários

Anônimo disse…
É estranho ler certas coisas....

...coisas como a afirmação proveniente de um "estudo", que diz: "As crianças negras, por exemplo, têm quase 70% mais chances de viver na pobreza do que as brancas"

Em se falando do povo brasileiro, onde a miscigenação esta presente em 95% e seguro pode-se dizer que nossa população é de pelo menos 70% negra ou com forte miscigenação na raça negra, onde encontraram esses percetuais mirabolantes???

Dificil de entender estudos deste tipo.

O estudo, não seria mais coerente, em tratar de mostrar que a cor da pele nenhuma diferença oferece a capacidade de cada um?
Ao invés de alavancar o racismo, ao invés de dividir, noa deveria agrupar??
Se os "estudos" fossem dirigidos a este proposito ou ponto, certamente a visão das pessoas hoje em dia seria muito mais abrangente...e não tão curta.