O protesto de Dora Jr.

Escrito por Mauro Santayana - Agência Carta Maior

Temos que entender a ira de certas parcelas da classe média. A situação lhes é ainda favorável, mas elas se sentem estimuladas, pelo preconceito contra o operário, a organizar-se para os protestos vazios. O Sr. João Dória Júnior é um promotor de eventos, e vive disso. Não consta que ele tenha promovido quaisquer eventos, sem levar algum – entre eles a passeata de madames, com seus respectivos cães, pelas ruas de Campos do Jordão. São notáveis os encontros anuais de celebridades que organiza na ilha de Comandatuba, pagos pelas bolsas mais recheadas e generosas do grande empresariado nacional e multinacional. Seu pai, parlamentar nacionalista, foi também grande publicitário. O Sr. Dória Júnior, ligado ao setor, sabe o valor das comissões, e sempre leva a sua parte, como é natural nesse tipo de atividades. Por isso, cabe a pergunta: alguém teria pagado pela organização da passeata dos ricos e dos alienados da classe média, realizada domingo em São Paulo? Quem seriam esses financiadores?

Business is business, e cada um se vira como pode. Mas não vale a pena discutir o Sr. Dória Júnior, cujas atividades são públicas. O que temos a considerar é o que está por detrás desses movimentos. Depois de várias tentativas, como as do Movimento “Quero Mais Brasil”, insistem nos mesmos métodos usados pela direita em nosso país em 1964 e no Chile, em 1973. Mas só os néscios podem encontrar semelhanças entre aqueles tempos e os nossos. É bom começar pela situação internacional. Naqueles anos, em plena guerra fria, os Estados Unidos, assustados com a perspectiva de que o exemplo de Cuba se alastrasse pelo continente, empenharam-se em comprar os parlamentos e os exércitos de todos os países. O pai do Sr. Dória foi dos que denunciaram a ação dos agentes norte-americanos e seus cúmplices nativos e, por isso, teve seu mandato cassado. Hoje, a situação é outra. Embora se preocupem com a Venezuela de Chávez e com a Bolívia de Morales, os norte-americanos não se encontram tão preocupados assim com o Brasil. Seus negócios não são ameaçados aqui, mesmo porque eles perderam a posição que tinham no passado, tendo em vista a invasão dos capitais ibéricos à América do Sul. Eles tentam agora estabelecer melhores vínculos, comerciais e políticos com o Brasil, e contam com o governo Lula, que lhes está abrindo a perspectiva de contar com um vasto canavial em terras nacionais. Ao contrário do que se pensa, eles farão tudo para garantir a estabilidade do atual governo, em que podem confiar.

Há quem veja, na crise aérea, alguma coisa parecida ao lock-out dos caminhoneiros no Chile de Allende. É preciso lembrar que Allende procurava construir realmente um sistema socialista no Chile. Como era democrata, acreditava, sinceramente, que era possível realizar o seu projeto sem violar o sistema eleitoral republicano. Contava com o apoio das grandes massas populares que se sentiam estimuladas a defender a nova dignidade adquirida. Estive em Santiago em março de 1973, quando se realizaram as últimas eleições parlamentares vencidas pela esquerda. A situação econômica, infelizmente, era desastrosa, em conseqüência da intervenção solerte dos Estados Unidos e da fuga de capitais que se seguiu. Amedrontados, os pequenos burgueses deixavam o país, e era possível comprar apartamentos por menos de mil dólares em Santiago. O abastecimento era precário, mas os trabalhadores não haviam perdido nada – mesmo porque, em qualquer lugar de Nossa América, os trabalhadores quase sempre não têm o que perder. Ao contrário, estavam, mesmo com as dificuldades do mercado, comendo melhor.

Recordo-me de haver visitado, em seu gabinete, o Ministro do Trabalho, Luis Figueroa, que eu havia conhecido em Praga anos antes. Figueroa, como velho comunista, sentia o perigo no ar. Tentava conter os extremistas, muitos deles agentes provocadores a serviço de Washington. Ele me disse que a economia chilena era vulnerável, baseada na mineração, cujos preços estavam sob controle dos cartéis dos grandes compradores, os principais jornais chilenos se encontravam sob o comando das grandes famílias, aliadas aos ianques. E que a pequena classe média, que antes parecia solidária com os trabalhadores, estava, em razão disso, mudando de orientação. Era necessária uma decisão rápida: ou se impunha logo o sistema socialista, ou se moderavam o discurso e a ação do governo. O fato é que ele via incompatibilidade entre o processo eleitoral, já viciado, e o projeto de socialismo. O aprofundamento das medidas revolucionárias não lhe parecia possível, porque não se podia confiar na fidelidade das Forças Armadas chilenas. Sai de seu gabinete certo de que o sonho acabaria logo, depois de termos almoçado frugalmente, em sua própria mesa de trabalho, com os dois pratos de comida trazidos de um restaurante popular, próximo do Ministério.

Ao despedir-me, Lucho, como era conhecido, abraçou-me dizendo “a ver se todavia nos vemos en la vida”. Não nos vimos. Exilado na Suécia, Luis Figueroa morreria três anos depois. Naquele clima, não foi difícil aos golpistas manobrar com as minorias da direita organizada. No Brasil, seja por que razões for, a situação é outra. Embora os problemas sociais ainda sejam graves, com a disparidade terrível entre ricos e pobres e a acumulação acelerada do capitalismo, a miséria está sendo combatida. É claro que seria melhor dar empregos do que subsídios da Bolsa-Família, mas – conforme dizia Herbert de Sousa, o Betinho, quem tem fome, tem pressa. Pouco a pouco estamos vencendo dificuldades muito antigas, como a da mortalidade infantil. A Pastoral da Criança é a mais efetiva ação de solidariedade de nossa História, com o envolvimento da própria população pobre.

Temos que entender a ira de certas parcelas da classe média. Elas têm vivido como vivem os ricos europeus. Contavam – e ainda contam, mesmo com menos facilidade – com servidores domésticos dóceis e mal pagos. Durante os governos militares, puderam comprar apartamentos e construir casas com juros subsidiados pelo BNH. Durante o governo passado, puderam consumir mercadorias importadas a preços irrisórios, em conseqüência de moeda supervalorizada pelo artifício dos mais altos juros do mundo. A situação lhes é ainda favorável, mas elas se sentem estimuladas, pelo preconceito contra o operário, a organizar-se para os protestos vazios. O apelo contra a corrupção é o mais cínico de todos. Temos o dever de combater toda e qualquer corrupção de todo e qualquer governo. Há ladrões no governo Lula? Que os identifiquemos e os denunciemos ao Ministério Público e à Polícia Federal. Devem ir para a cadeia, como quaisquer delinqüentes. Mas os partidos que estão, por detrás do Sr. Dória Jr., manipulando a alienação e a desinformação da classe média, não têm lastro moral para combater a corrupção. Todos eles tiveram e têm os seus corruptos. No dia em que soubermos o que houve durante o governo chefiado pelo PSDB, o mundo cairá sobre as nossas cabeças. O que se dizer do comportamento ético do PFL, que um dia foi PDS; do PDS que um dia foi Arena; da Arena que um dia foi UDN?

Que desfilem as madames, se possível levando seus cãezinhos de estimação. O Sr. Dória Júnior que fature o que puder faturar em sua atividade de promotor de festas. Só podemos discordar do verbo usado. Uma coisa é “cansar-se” de ver um trabalhador no poder. Outra é cansar-se, como se cansam os operários e lavradores, de trabalhar a vida inteira e aposentar-se com menos de um salário mínimo. Os agitadores da classe média alta não podem estar cansados, pelo simples fato de que não sabem exatamente o que é trabalhar. Enquanto eles passeiam, com cães ou sem cães, o Brasil nada deve ao FMI, a dívida externa é inferior às reservas internacionais, as exportações crescem, e o povo vive bem melhor. E, mais ainda, os empresários nacionais (com a exceção dos incompetentes) estão satisfeitos com a administração da economia.

O PAN VITORIOSO

O Globo de hoje publica, na sua página 6, o editorial “Pan vitorioso”, fazendo um balanço das vitórias do Rio e do Brasil no Pan-Americano de 2007, a começar pelo desempenho dos nossos atletas. Segundo o editorial, o excelente resultado da delegação brasileira que teve o seu melhor desempenho nos Jogos e confirmou a tendência de constante avanço do esporte nacional observada desde o Pan de 1983, em Caracas, na Venezuela, mostra que “é indiscutível que o país colhe os bons resultados da política de incentivo fiscal ao esporte e de patrocínio de atletas”.

O editorial destaca o entrosamento entre os governos municipal, estadual e federal na organização do evento e elogia a postura do governo do presidente Lula. “Ficou evidente que o governo federal de fato entendia a importância do Pan não apenas para o Rio, mas para o país, por ser uma forma de ativar o turismo e credenciar a cidade para voltar a lutar, com chance real de vitória, para promover as Olimpíadas, sem falar na Copa do Mundo de 2014, um plano de que participam vários estados”, diz o texto. O texto lembra as obras que não puderam ser feitas ou concluídas, como a extensão do metrô à Barra e a criação de um corredor exclusivo de ônibus da Barra à Penha, e que precisam ser feitas, já que o Rio é candidato natural a ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e a sediar as Olimpíadas de 2016. E as obras que foram feitas e serão herdadas pelo Rio de Janeiro, que passa a ter uma estrutura esportiva de primeiro mundo, “tornando-se no continente sede natural de muitas competições internacionais - o Engenhão, a arena multiuso e outros investimentos feitos na região do Autódromo, a reforma do Maracanãzinho, que agora precisarão ser administradas com competência e eficiência para serem preservadas e conservadas.

“O Rio e o Brasil saem do Pan 2007 melhores do que quando os Jogos começaram. O país do apagão aéreo e da tragédia de Congonhas, a cidade e o estado vítimas do tráfico e da violência deram um exemplo de competência na organização do Pan e mostraram que mesmo problemas muito sérios podem ser resolvidos quando a política partidária é deixada de lado e os governantes se unem pelo bem comum”, conclui o editorial. Agora é hora de arregaçar as mangas, intensificar a implementação de politicas públicas para massificar a prática esportiva nas escolas e nas universidades, concluir as obras que não puderam ser concluídas, criar mecanismos eficazes para a administração e conservação dos novos espaços esportivos do Rio de Janeiro e trabalhar com empenho e seriedade para que o Brasil seja a sede da Copa do Mundo de 2014 e se candidate, com chance real de vitória, a sediar as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Zé Dirceu.

Comentários

Anônimo disse…
Alguém já disse certa vez: Nada mais burguês qué a idéia de não parecer burguês.

Eu também achei o nome "Cansei" meio estranho. Soa mal! Mas daí a fazer associação com parada gay...fosse essa a colocação da "mídia golpista" contra algo ou alguém da esquerda, vocês gritariam em unissono chamando todo mundo de elite branca, reacionária e homofóbica.

Ah, eu havia me esquecido. Só vocês têm o direito de convocar uma passeata. Só vocês têm o direito de erguer a bandeira e a voz contra o que julgam errado. Só vocês têm o direito de serem oposição.

Era evidente que só vocês teriam o direito de serem preconceituosos e fazerem brincadeira de cunho homosexual contra o movimento adversário.

Isso é bem comum das esquerdas já que adoram os adjetivos e os imperativos de mandarem alguém tomar naquele lugar.

Fiquem tranquilos, a Parada Gay é só de vocês. Afinal era lá que seriam distribuídos flyers com o logotipo do governo para a tal redução de danos no uso de drogas. É na Parada Gay que se vê, ao lado da bandeira do arco-íris, a bandeirinha do PT, do PSTU e do MST.

Como não bastasse a elite ir para a rua protestar contra o governo, agora querem também roubar o mote homosexual sempre defendido pela esquerda. Assim não dá!
Anônimo disse…
Seria ate divertido, se nao fosse Tragico.

Ze Dirceu...Quem diria que depois tantas Acusacoes e Crimes Durante o tempo de Oposicao do PT-CUT-MST-FARCS... Eles que sempre "acusaram a Tudo e a Todos"-Nas palavras de seu Proprio Aliado DELFIN NETO. Logo Ze Dirceu que sabe muito bem dos ACORDOS Firmados entre as FAMILIAS, querer agora agora Gritar
que,"Se tiver Ladrao no Governo LULA que Denucie"...Como e CINICO e SAFADO.

Isto e o que acontece em Nacao que O Crime IMPERA. Ladroes, Bandidos, Corruptos, Terroristas Cinicos; Continuam em Liberdades acima da Lei que qualquer outro Individuo Trabalhador e Honrrado tem a Vida Destruida por coisas que nem Crime deveria ser Considerado.

Por que o Ze Dirceu deixou de DESgovernar o Primeiro Pleito de LULA? Sera que o Povo ja esqueceu?
Ah, Claro! Havia esquecido de que e Inocente. Nunca Formou Quadrilha,
nunca usou o Gabinete para Transacoes Ilegais com nenhum Bandido que Deplidam o Erario.
Claro, que somente os Outros Bandidos, em especial do PSDB e PDT que Cometem Crimes e atos Ilegais. Membros do PT-Cut, estao acima da Lei.

Eta Republiqueta das Bananas-Boliviarias-MST-Farc-PCC-Pastoral da Terra-PSDB-OPUS_DEI... Menos dos Brasileiros Honestos que tem de Pagar Pedagio para Viver, Trabalhar ou Fazer Negocios no Territorio da MAFIA POLITICA-Sindicalista-Religiosa-Terroristas.

Daniel e Ze Dirceu; caso DENUCIAR CRIMES deste DESgoverno fosse Possivel de ser Levado a Serio e Punido pelas Autoridades. Lula teria saido durante o tempo em que Ze Dirceu Desgovernava, nao teria sido reeleito, nao haveria CLONAGEM DE URNAS...Enfim, nao Haveria PACTOS de Silencio e Desvios de Atencoes, para falta de INSTITUICOES deVERDADE no Brasil, que Sirva o POVO nos Tres Poderes. Teriamos a Constituicao da NACAO, e LEGISLACOES CRIMINAIS com Independencia do Judiciario.

Nao haveria Individuos com o CINISMO de ZE dirceu; escrevendo tais ASNEIRAS.

Ate quando terei de continuar vendo e ouvindo tais Asneiras de Criminosos Legalizados.

Nada Pessoal,
Admir Vasconcelos