Escrito por Altamiro Borges - Adital

A edição paulista da revista Veja desta semana se superou no reacionarismo. Na sua capa terrorista, que apresenta a foto de uma barricada incendiada em frente à reitoria da Universidade de São Paulo e uma manchete apocalíptica ("Caos na USP"), e no título agressivo do artigo principal ("Estão brincando com fogo"), a publicação exagera nos adjetivos contra os estudantes que ocuparam esta instituição na legítima luta pela autonomia universitária. O texto assinado pelos "jornalistas" Álvaro Leme, Maria Paola e Sandra Soares parece ter sido escrito por ativistas do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) no período mais sombrio da ditadura militar no país. Mais realistas do que o rei, eles destilam ódio na pseudo-reportagem.

Após fazer apologia da "maior e melhor instituição de ensino do país", sem entrar no mérito das críticas dos estudantes, a matéria editorializada desqualifica o "pequeno bando formado por cerca de 300 de seus quase 80.600 alunos que invadiu o prédio e ali acampou, ameaçando permanecer aquartelado até que uma lista com dezessete exigências, boa parte delas oportunista, fosse atendida". Diz ainda que "os arruaceiros destruíram uma porta e depredaram as placas... Espalhados por um chão ensebado, coberto por pedaços de papel, casais namoraram, rapazes divertiam-se em jogos de carteado e mocinhas pintavam as unhas - alguns vestidos com camiseta de microscópicos partidos da esquerda radical, como PSOL, PCO e PSTU".

Razões da famiglia Civita - Além de desancar os estudantes, o artigo também critica a "Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, que aproveitou para entrar em greve, desrespeitando o direito dos alunos que querem estudar, e o Sindicato dos Trabalhadores da USP". Sobre as reivindicações dos manifestantes, que repudiam cinco decretos do governador José Serra contrários à autonomia universitária, afirma, candidamente, que houve apenas "desencontro de informações" e que o "o governo se apressou em apagar o incêndio". Na opinião dos porta-vozes da Editora Abril, "os estudantes que invadiram a reitoria da USP pegaram carona" nesta confusão. E eles ainda lamentam, despudoradamente, que "os amotinados não atendam a imprensa".

Caso não tivesse estourado o escândalo envolvendo o senador Renan Calheiros, provavelmente o "caos na USP" seria a manchete da edição nacional da revista Veja. A grosseira provocação não ficaria circunscrita ao encarte paulista. Isto por dois motivos. O primeiro, de classe, é que esta publicação direitista sempre se coloca frontalmente contra todos os movimentos sociais - organizados ou espontâneos, sem distinções. O segundo, mais político, é que a revista da famiglia Civita já deflagrou a campanha presidencial do tucano José Serra. Ela faz um esforço titânico para evitar qualquer tema que prejudique o seu "candidato" e para difundir suas "virtudes". A campanha é descarada - e alguns jornalistas topam fazer o papel de ingênuos!

Publicitários de José Serra - Para ilustrar, bastam dois exemplos. Na semana de janeiro em que ocorreu a erosão na obra do Metrô, que abriu uma cratera no centro de São Paulo e causou várias vítimas, a capa da revista Veja estampou a foto de um cachorro com salto alto e a "meiga" manchete: "Humanos&caninos: uma história de amor". Já em meados de maio a revista fabricou uma reportagem rasgando elogios ao governador, que teria resolvido os problemas de segurança pública e controlado os presídios, "com medidas rigorosas". Na deprimente foto em que ele aparece segurando um rifle, a legenda publicitária: "José Serra brinca com uma arma diante de fotógrafos. Mas o governador não está para brincadeira quanto o assunto são as penitenciárias do Estado. Elas são regularmente revistadas por agentes especiais e os presos indisciplinados agora sofrem sanções".

No caso da ocupação da USP, a revista até superou os seus concorrentes tucanos. A Folha de S.Paulo, por exemplo, chegou a criticar a total omissão do tucano. O articulista Fernando Barros e Silva registrou que "o governo Serra tergiversa, desconversa, age reiteradamente de forma oblíqua. Ora parece pouco seguro de seus propósitos, ora dá impressão de que quer engambelar a platéia". Já o jornalista Paulo Henrique Amorim, no seu blog Conversa Afiada, lembrou que o governador sempre desaparece de cena política quando ocorre algo grave no Estado e perguntou: será que ele está pendurado ao telefone com os editores da Folha, Estadão, Globo e Veja para fabricar uma cobertura favorável diante do "caos na USP?".

AMIGO DO DO DESABAFO TEM VOZ:

Ronald disse... Gradativamente estou deixando de lado os produtos de certos grupos de comunicação. Trata-se de jornalismo branco onde só é informado aquilo que é de interesse deles. Vários blogueiros já publicam informações com muito mais conteúdo e confiablidade na matéria que os citados grupos. Blog neles...

Comentários

Unknown disse…
Gradativamente estou deixando de lado os produtos de certos grupos de comunicação. Trata-se de jornalismo branco onde só é informado aquilo que é de interesse deles. Vários blogueiros já publicam informações com muito mais conteúdo e confiablidade na matéria que os citados grupos. Blog neles...
Ronald, realemente muita gente vem despertando seu senso crítico em relação aos meios de comunicação. Como vc já percebeu, vem ocorrendo um desperta na população, é bom para Nação. Um fraterno abraço, Daniel.