Mídia sucumbe de novo
Escrito por Eduardo Guimarães

Nós últimos tempos, dois crimes que qualificar como hediondos seria eufemismo, tomaram a imprensa. Não vale a pena recuarmos muito no tempo para buscar outros exemplos de crimes da mesma natureza porque, em lugar de um artigo, produzir-se-ia aqui uma lista extensa de barbaridades surpreendentes que ocorrem neste país com freqüência cada vez maior e mais assustadora. Os crimes aos quais me refiro são o do grupo que ateou fogo num carro com uma família dentro em Bragança Paulista (SP) e o mais recente, agora no Rio, de outro grupo que arrastou por quilômetros, pendurado num carro, um garoto de seis anos.
Este é um daqueles momentos em que a mídia tem um papel crucial na vida do país. A tendência das sociedades diante de barbaridades como as supra mencionadas é a de agirem com precipitação. O mundo - e não só o Brasil - atravessa uma situação surrealmente aterradora e ameaçadora, de maneira que é compreensível que a mente humana busque conforto em "soluções" definitivas e rápidas, criando assim a ilusão de que é possível afastar de si, como por mágica, esse cálice de horror que vêm sendo materializado por atos de violência extremada até contra meras crianças.
Mais uma vez, a mídia não se mostra a altura dos desafios que se lhe apresentam. Sucumbe ao moto próprio dos fatos em lugar de conduzi-los a bom porto em termos de sua imperiosa compreensão. Em vez de apurar o que mais importa nesses eventos macabros, termina por deixar que sua face mais visível, que é a sui generis, domine as discussões e oblitere o surgimento de propostas. É por isso que, num oceano de crimes hediondos, sua característica mais bizarra vem sendo apresentada como a que, se eliminada, pode solucionar tudo. E o pior: a solução proposta para o problema menor, não o soluciona.
Nas duas tragédias que citei no início deste texto, há como autor apenas um menor de idade. Todos os outros criminosos envolvidos são maiores. E o que toma conta da mídia? Pasmem: uma discussão sem sentido sobre redução da maioridade penal. Ou seja, em lugar de a mídia propor reflexões profundas sobre por que a selvageria dos crimes mais graves está aumentando tanto, propõe que o debate gire em torno de apenas um aspecto do problema que nem é o mais relevante, pois se a lei não desestimulou nenhum dos maiores de idade que cometeram os crimes, certamente não iria desestimular o menor.
Não vou entrar na polêmica sobre se o Brasil deve ou não reduzir a idade de responsabilização penal de seus jovens. Seria uma armadilha que desviaria o foco do debate que proponho, que é sobre como a mídia brasileira, pelo menos, pode se tornar elemento de conscientização da sociedade em vez de mera e fiel reprodutora de sua comoção humanamente irracional diante de tragédias da natureza das que penosamente lembrei neste artigo.

Comentários

Anônimo disse…
Olá,

Sou editora do Jornal de Debates (www.jornaldedebates.com.br), um
jornal colaborativo na internet, que propõe diversos debates semanais.
Encontrei no seu blog um post sobre a maioridade penal, e gostaria de convidá-lo a escrever no nosso jornal sobre esse tema, ou mesmo replicar seu post, que se encaixa muito bem num dos debates desta semana.

Qualquer dúvida, entre em contato

Grata
Gabriela Nardy
gabriela@jornaldedebates.com.br
Editora - Jornal de Debates