Lula se apresenta em Davos como
o grande integrador
da América Latina


Andrés Ortega - enviado especial a Davos, Suíça. Armado de seu segundo mandato e sua "experiência" acumulada, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo ele mesmo afirmou, apresentou-se ontem no fórum econômico mundial de Davos como o grande integrador da América Latina, uma integração que tem de ser "física" - com estradas, telecomunicações, gasodutos e oleodutos - e "comercial, política, econômica e cultural", pois fará a região crescer.
Sua intenção declarada é que todos entrem para o Mercosul, propósito com o qual não concordou o presidente mexicano, Felipe Calderón. Este vê para seu país - que segundo um relatório da Goldman Sachs citado por ele se transformará na quinta economia do mundo - um papel "equivalente" ao dos EUA, da UE e do Pacífico, e acredita que falar tanto em integração pode gerar desunião. A América Latina voltou a Davos com muitos dados a seu favor, entre outros a generalização de boas contas públicas e a redução dos que estão no nível máximo de pobreza, que passaram de 98 milhões para 78 milhões, segundo José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização de Estados Americanos, embora esse problema e a desigualdade continuem pesando na capacidade de crescer. Calderón apresentou as vantagens do México para alcançar seus objetivos nos próximos anos no petróleo, na biodiversidade, posição geográfica estratégica, risco-país baixo e uma sociedade jovem, de 27 anos em média. O recém-eleito presidente mexicano foi em sua época designado "jovem líder global" por este fórum - Merkel e Blair também o foram. Embora a sessão coletiva fosse realizada sob o título de "América Latina amplia seus horizontes", é significativo que o plenário que estava lotado para escutar o rei Abdullah 2º da Jordânia ficou pela metade para esta discussão ou para ouvir as mensagens individuais de Lula e Calderón.
Foi um Lula muito mais seguro do que o que esteve no Fórum Social de Porto Alegre quatro anos atrás para apresentar sua globalização de face humana. Além de explicar seu programa econômico ortodoxo - com superávit fiscal e comercial - e social avançado para um Brasil que precisa crescer, lançou uma mensagem muito clara: os países europeus e os EUA devem reduzir suas subvenções à agricultura para que a Rodada de Doha sobre comércio internacional tenha êxito e os países mais pobres possam exportar e deixar de ser "a escória da Terra". Lula apresentou o acordo a ser feito como "político e não econômico". A outra mensagem referiu-se à América Latina, com um conteúdo triplo: a democracia - em si e como garantia para que os setores mais pobres melhorem - e a integração regional. Para esta pediu grandes infra-estruturas, como o gasoduto da Argentina à Venezuela, a rodovia do Peru ao Atlântico ou companhias aéreas mais avançadas. Para tudo isso estava muito consciente de que esses projetos necessitam de capital privado. Só o Brasil até 2010 vai precisar de US$ 236 bilhões - dos quais US$ 130 bilhões para serviços sociais.
Diante da platéia seleta de Davos, com empresas que representam um quinto do PIB mundial, apresentou a lei de parceria público-privada, mas também avisou que o governo não poderá esperar que as empresas se decidam com sua lentidão habitual. "Continuamos sendo capitalistas hesitantes?", perguntou-se em outra sessão um ex-presidente mexicano. Embora discrepantes sobre a integração regional, Calderón e Lula concordaram sobre a necessidade de reforçar a democracia e lutar contra a insegurança e a violência urbana. Para Calderón, as diferenças na América Latina "não são entre esquerda e direita", mas entre "futuro e passado". Neste situou as "ditaduras vitalícias" e o distanciamento do mercado, que, segundo ele, é tão necessário quanto o Estado. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
- Fonte Folha de São Paulo.

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